Reconhecemos que a graça de Deus tem nos conduzido a uma posição de
estarmos assentados com Cristo nos lugares celestiais. Devemos desfrutar
intensamente desta realidade. O conhecimento de nossa posição nos leva a
observar a vida por uma outra perspectiva como o Pastor Aluísio nos
desafia a estarmos, como Igreja, assentados à mesa do Rei.
Disse Davi:
- Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que eu use de
bondade para com ele, por amor de Jônatas? Havia um servo na casa de Saul
cujo nome era Ziba; chamaram-no que viesse a Davi.
- És tu, Ziba? – perguntou-lhe o rei.
- Eu mesmo, teu servo – respondeu.
- Não há ainda alguém da casa de Saul para que eu use da bondade de
Deus para com ele ?
- Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés.
- E onde está?
- Está na casa de Maquir, filho de Amiel, em Lo-Debar. Então,
mandou o rei Davi trazê-lo de Lo-Debar, da casa de Maquir, filho de
Amiel. Vindo Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, a Davi,
inclinou-se, prostrando-se com rosto em terra.
- Mefibosete! – disse-lhe Davi.
- Eis aqui teu servo! Respondeu.
- Não temas, porque usarei de bondade para contigo, por amor de
Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu
comerás pão sempre à minha mesa.
- Quem é teu servo – disse Mefibosete, inclinando-se diante do rei –,
para teres olhado para um cão morto tal como eu? Chamou Davi a Ziba,
servo de Saul, e lhe disse:
- Tudo o que pertencia a Saul e toda a sua casa dei ao filho de teu
senhor. Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra, tu e teus filhos, e teus servos,
e recolherás os frutos, para que a casa de teu senhor tenha pão que coma;
porém Mefibosete, filho de teu senhor, comerá pão sempre à minha mesa.
Tinha Ziba quinze filhos e vinte servos. Segundo tudo quanto meu
senhor, o rei, manda a seu servo, assim o fará – disse Ziba ao rei.
Comeu, pois, Mefibosete à mesa de Davi, como um dos filhos do rei. Tinha
Mefibosete um filho pequeno, cujo nome era Mica. Todos quantos moravam em
casa de Ziba eram servos de Mefibosete. Morava Mefibosete em Jerusalém,
porquanto comia sempre à mesa do rei. Ele era coxo de ambos os pés (II Sm
9:1-12).
1. A
bondade de Deus
Certo dia, ao lembrar-se da aliança que fizera com Jônatas, o rei Davi
perguntou aos seus servos: “Existe ainda algum parente de Saul, para que
eu use de misericórdia para com ele, por amor de Jônatas?” Sim. Havia um,
cujo nome era Mefibosete. Mefibosete era filho de Jônatas e neto de Saul,
o primeiro rei de Israel, cujo trono foi tomado por Deus e dado a Davi.
Mefibosete era um príncipe, mas vivia como um plebeu – no deserto. Aos
cinco anos de idade, sofreu um acidente cujas seqüelas o acompanharam
pelo resto da vida. E naquele dia o reino de Israel caiu humilhado diante
dos filisteus. Na ocasião, morreram o rei Saul e seus filhos Jônatas,
Abinadabe e Malquisua. Quando a notícia chegou ao palácio real, a ama de
Mefibosete tomou-o nos braços e fugiu. Na pressa de fugir, ela deixou o
menino escapar-lhe dos braços, caindo no solo.
E essa queda mudou tragicamente o futuro do único sobrevivente da casa de
Saul: ele ficou aleijado de ambos os pés. Nessa história, encontramos
duas personagens típicas: Mefibosete – um tipo do cristão – e o rei Davi
– um tipo de Cristo. Davi tinha uma aliança com Jônatas e, por esse
motivo, resolveu usar de bondade para com o único filho vivo de seu amigo
do peito. A motivação era, exclusivamente, a própria aliança que havia
sido celebrada entre ambos. Hoje, o nosso rei – o Senhor Jesus -, por
causa da aliança firmada na cruz, quer usar de bondade para conosco. E a
motivação para isso é, exclusivamente, a referida aliança. A história da
vida de Mefibosete nada mais é do que a nossa própria história diante de
Deus. Todos nós, à semelhança do filho de Jônatas, nascemos para reinar,
mais infelizmente, por causa do pecado, perdemos a nossa condição de
príncipes e herdeiros do reino.
2. Os pés aleijados
Mefibosete era aleijado de ambos os pés. Na palavra de Deus, os pés
simbolizam o nosso modo de viver. E quando esses pés estão deformados
pelo pecado, significa que o nosso modo de andar diante de Deus é falho e
imperfeito. Veja, porém, quão grande amor o Senhor tem por nós. Ele usou
de bondade para conosco, quando ainda éramos aleijados. Embora o pecado
ainda habite em nós, Deus continua usando de misericórdia e graça para
conosco. O crente carnal, que vive na prática do pecado tem as mesmas
características de alguém, cujos pés são aleijados. Se não, vejamos:
· Um aleijado não tem uma boa postura física. Anda quase sempre encurvado
e tropegamente.
· O crente carnal não tem uma boa postura no mundo espiritual. Anda
encurvado e tropeçando sob o fardo de pecados não confessados, que o
impedem de olhar para o céu.
· Um aleijado não tem a mesma desenvoltura que uma pessoa normal. É
incapaz de percorrer as mesmas distâncias; sofre um desgaste físico muito
maior; cansa-se muito mais rapidamente.
· O pecado também drena nossa vitalidade física, deixando-nos incapazes
de avançar. Qualquer pessoa, cujos pés estão embaraçados pelo pecado, não
consegue andar no mesmo ritmo, nem chegar até onde os outros chegam.
Se você não consegue acompanhar os outros irmãos, se está entediando
espiritualmente, se não tem perseverado, enquanto os demais prosseguem na
caminhada, não há outra coisa a fazer senão esta: pare, por um instante,
examine sua vida espiritual e veja se, por ventura, não existe algum
pecado obstruindo sua jornada. Por outro lado, talvez você esteja
consciente do pecado e, por isso mesmo, entrou num estado de prostração e
desânimo, esforçando-se desesperadamente para corrigir os pés disformes,
que não mais atendem ao seu comando. Algumas pessoas dizem que é só uma
questão de decisão de perseverança ou de disciplina; mas nada disso
parece fazer efeito, quando os pés estão atrofiados. Deve existir um motivo
muito forte por que tantos outros caminham ao seu lado, com agilidade e
desenvoltura, enquanto você vive capengando, coxeando, todo desengonçado,
sentindo-se diferente dos demais: o mais pecador e o mais vil de todos. É
impossível ao próprio homem corrigir os pés aleijados. É terrível quando
somos cobrados por coisas que não conseguimos mudar em nós mesmos.
Ficamos emocionalmente destroçados.
Esta foi a triste experiência de Mefibosete, e o de ter motivo escolhido
Lo-debar como habitação.
3. Vivendo em Lo-debar
Lo-debar
significa um lugar seco e árido, onde não se planta nem se colher nada. É
um lugar de desolação, solidão e tédio. A situação agrava-se, quando nos
lembramos de que Mefibosete havia sido criado como um príncipe, para
viver num palácio e desfrutar o melhor da vida. Como foi dito, a vida de
Mefibosete é um retrato da nossa própria existência. E, assim como ele,
nós também fomos criados para ser príncipes. Não devemos nos contentar
com a vida árida do deserto, visto que fomos criados para a abundância e
para a dignidade. Mas, quando cedemos espaço em nossas vidas para aquilo
que está fora da vontade de Deus, quando o nosso caminhar está fora do
padrão do Senhor, só nos resta viver em Lo-debar – no deserto. Todavia,
não é esta a vontade de Deus para nós. Ele deseja que habitemos em Canaã. No deserto,
não há vida: só esterilidade, escassez e morte. Infelizmente, na vida de
muitos irmãos – o casamento, o trabalho, as finanças, a fé – há muita
semelhança com a que se vive em Lo-debar. Mefibosete,
porém, lá no deserto, teve uma agradável surpresa: o rei mandara uma
comitiva para levá-lo de volta a Jerusalém, onde passariam a viver no
paço real (v 5).
4. Nada mais que um cão morto
Uma vez restaurados, somente uma coisa pode nos impedir de receber as
bênçãos de Deus: uma auto-imagem negativa. No caso de Mefibosete, era o
seu mais grave problema. Tão logo soube, por intermédio do próprio rei,
que passaria a comer à mesa real, deu vazão à baixa estima – camuflada
sob uma capa de falsa humildade – ao responder ao rei: “Na verdade não
passo de um cão morto; não mereço receber nada”. Afligido por uma
autopiedade mórbida, Mefibosete era incapaz de compreender tamanha graça
que lhe fora concedida. Seus ouvidos, acostumados apenas às queixas e
lamúrias depressivas, não estavam abertos para ouvir boas novas. Ele se
habituara a esperar sempre o pior. O único direito que julgava ter, era o
de continuar sendo um verme, um incapaz: “Já tentei, inutilmente e de
todas as formas, mudar o meu jeito de andar. Já tentei, a todo custo,
sair desta vida de sequidão, mas não consigo. Eu só posso concluir que
não presto para coisa alguma! Eu não sou nada mesmo!
Eu não tenho nenhum valor! Eu não passo de um cão morto!” Em
circunstâncias semelhantes, precisamos entender que ninguém, sozinho,
pode corrigir os próprios pés aleijados. Sem a ajuda de um “santo
ortopedista”, os nossos pés continuarão deformados. Nem a
autodepreciação, nem a autopiedade honram a Deus. Precisamos crer e
abrir-nos, para receber a graça de Deus. Ainda que o mundo diga que “pau
que nasce torto, morre torto”, sabemos que esse “pau” só ficará torto
enquanto o santo carpinteiro de Nazaré não o aparelhar. Não existe
madeira que Ele não possa aplainar.
5. Assentado á mesa do Rei
Mefibosete passou a comer pão à mesa do rei, como se fosse um dos
próprios filhos de Davi (v 11). Quanto a nós, temos esse direito de nos
assentarmos à direita do Rei porque somos, de fato, filhos dele. A
expressão “comerás pão sempre à minha mesa”, possui pelo menos quatro
significados espirituais: em primeiro lugar, significa honra. Somente os
nobres comem à mesa do rei. Ser convidado para comer com o rei tem o
mesmo valor que receber um título de nobreza. Você faz idéia do que isso
significava para alguém que se vê como um cão morto? É tanta a bondade do
rei que é quase impossível acreditar nela. Deus nos fez nobres em Cristo Jesus. Não
somos mais cães mortos; somos filhos do Rei. Em segundo lugar sentar-se à
mesa é desfrutar a comunidade do rei. Significa fazer parte da corte
real, ter o privilégio de ouvir as coisas de perto e desfrutar a
abundância da provisão do rei. É comer e beber do melhor. A palavra do
Senhor, em Isaías 1:18, diz-nos o seguinte: “Se quiserdes e me ouvirdes,
comereis o melhor desta terra”. Em terceiro lugar, a mesa do rei
simboliza uma ação do sangue de Jesus.
RESUMO
1. Mefibosete era aleijado de ambos os pés. Na palavra de Deus, os pés
simbolizam o nosso modo de viver. E quando esses pés estão deformados
pelo pecado, significa que o nosso andar diante de Deus é falho e
imperfeito.
2. A vida de Mefibosete é um retrato da nossa própria existência. E, como
ele, nós também fomos criados para sermos príncipes. Não devemos nos
contentar com a vida árida do deserto, visto que fomos criados para a
abundância e para a dignidade.
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